quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sobre a grande leitura

E aquele momento em que ao fechar o livro e apagar as luzes da mesa de escrivaninha. Lentamente vou me ajeitando para mais uma das posições que vou assumir durante o sono e lentamente também vou fechando os meus olhos, sem pressa, apesar da hora, de cair nas graças do sonho. E nessa hora, em minha mente, também vagorasamente se desligando, se preparando, surgem as figuras, ainda que distantes e ofuscadas de Jaime Deza (narrador de Seu rosto amanhã – vol. 1 Febre e lança, de Javier Marías) e seu velho amigo Peter Wheeler. Não consigo nem me importa lembrar o que falavam, sei apenas que estavam os dois sentados, o último com seu charuto na boca num dos degraus da escada quase esbarrando no cinzeiro aos seus pés e o primeiro, em gesto de companhia, sentado numa escadinha próxima escutando aos jogos do velho. Sei apenas que os dois estavam lá e aquilo era música para os meus ouvidos.

Não os chamei e nem estava querendo refletir sobre o que havia acabado de ler e no entanto Dez e Wheeler voltaram uma última vez na minha noite para reencenar a última conversa que tiveram. Não lembro do que falavam, se falavam em inglês, espanhol ou português, se tratavam de Luisa, de Tupra ou da guerra civíl espanhola. Lembro apenas que naquela noite ao fechar os olhos deixei aberta uma pequena fresta da porta aberta de onde saltava uma luz baixa e os sons de Wheeler fumando seu charuto ao pé da escada.

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